segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Perfil FC Barcelona: características individuais de cada posição

Sequência da palestra feita por Jordi Busquets apontou especificações individuais dos atletas no 1-4-3-3 catalão

Para finalizar o conteúdo da palestra do gerente de prospecção da equipe espanhola, Jordi Busquets, no II Seminário de Futebol realizado em Porto Alegre, a coluna desta semana irá descrever as características individuais de cada posição. Tais características servem tanto para os jogadores que atuam no clube como para os que são captados pelos observadores. As descrições estão divididas em situações com e sem posse de bola.
Arquero/Goleiro
Com a bola: A primeira opção a jogar com passe curto. Capacidade de ler o jogo e encontrar a melhor opção possível. Colocação adequada para dar linha de passe ao companheiro que tem a bola, sem precipitação, oferecendo segurança. Boa técnica de domínio e chute. Boa reposição de bola com as mãos.
Sem a bola: Boa colocação em relação à bola e o gol. Liderança, caráter, capacidade de decisão e antecipação às possíveis ocasiões do jogo. Capacidade de salto e bom jogo aéreo. Bom bloqueio da bola. Agilidade, velocidade de reação e elasticidade. Bom no 1x1.
Centrales/Centrais
Com a bola: Adotar uma posição aberta na fase de início de jogo, com personalidade e sem medo. Boa técnica de domínio e passe. Oferecer segurança. Passe longo em diagonal e em profundidade aos atacantes. Superar linhas de pressão rival com passes verticais. Subir ao ataque quando houver espaço e criar situações de 2x1. Voltar rápido.
Sem a bola: Contundente e com personalidade. Capacidade de marcação. Não ir ao solo, nem bater. O primeiro, é defender. Jogadores ágeis. Quando a bola for à faixa lateral, bascular em sua direção e realizar coberturas. Não perder de vista o outro central e o atacante adversário. Nunca perder o conceito de marcação. Jogador de costas com a bola não gira nunca e o obriga a jogar de primeira. Não fazer faltas. Não permitir que corram em suas costas.
Laterales/Laterais
Com a bola: Abrem o campo na fase de início de jogo para dar saída. Recebem de lado e bem posicionados. Capacidade para incorporar ao ataque pela faixa ocupando o espaço que o atacante deixou livre. Sempre atento à formação de triângulos. Boa técnica de domínio e passe. Boa técnica de cruzamento.
Sem a bola: Com jogador de costas, não fazer falta. Fechar a defesa quando o lateral do lado contrário apoiou o ataque. Controle do jogador adversário que caiu pela faixa lateral. Evitar os cruzamentos do rival. Não permitir que corram em suas costas.
Mediocentro/Volantes
Com a bola: Ler as situações de jogo para posicionamento em relação à bola. Saída rápida, passes e conduções curtas. Evitar riscos de perda da bola quando recebe de costas ao gol adversário, jogar de primeira. Movimentos laterais para facilitar a ação dos meias na fase de criação. Capacidade de mudar a orientação do jogo com passes curtos ou em profundidade. Boa técnica de domínio e passe.
Sem a bola: Capacidade de comunicação e liderança. Pressão para recuperação da bola. Cobertura dos meias. Fechar espaços e linhas de passe pra o adversário. Diminuir o espaço entre linhas.
Interiores/Meias
Com a bola: Visão de jogo e alta qualidade técnica. Muita segurança. Fundamentais em gerar situações de gol. Assistências e chegadas ao gol. Boa finalização de fora da área. Chegada com triangulações ou jogadas individuais. Receber de lado e jogar de primeira. Mover-se entre linhas e oferecer-se constantemente.
Sem a bola: Pressão para recuperação da bola. Comunicação com o volante. Defender dentro e junto. Ajudas constantes. Fechar espaços e linhas de passe.
Extremos/Atacantes
Com a bola: Muita profundidade. Bom 1x1 por velocidade e qualidade. 1x1 perto da área, nunca no meio do campo. Normalmente se vão pelas faixas e passam bem. Se cruzam a bola do lado oposto, devem chegar dentro da área para alcançar as bolas que passarem. Jogadores rápidos e ágeis. Inteligentes na tomada de decisão.
Sem a bola: É o primeiro defensor. Não tem que recuperar a bola. Frear o ataque e fechar linhas de passe é suficiente. Não lhes podem passar com facilidade. Não bater. Quando um companheiro perde a bola do lado oposto, recuperar muito rápido em diagonal para as posições 8 e 10 (meias).
Delantero centro/Centroavante
Com a bola: Deve entrar no primeiro poste nas ações pelas faixas laterais. Buscar finalização. Tem que ser goleador. Bom de cabeça, rápido e explosivo. Ter muita visão de jogo. Dominar jogo de costas, favorecendo paredes e entradas. Jogar de primeira, proteger a bola e profundidade.
Sem a bola: Posicionamento entre os dois centrais. Saber o momento correto de apertar o adversário. É o primeiro defensor.
Quem é leitor assíduo da Universidade do Futebol saberá que o produto final da equipe espanhola é muito maior que o somatório das características individuais de cada posição. Antes da plataforma de jogo e das regras de ação, a filosofia do clube catalão permite o desenvolvimento de uma equipe que da base ao profissional privilegia as técnicas de domínio e passe para controlar o jogo.
Segundo o palestrante, o segredo (que não é segredo para ninguém) do sucesso do clube catalão deve-se a La Masía, ao Sistema de Treinamento e ao update feito pelo treinador Pep Guardiola.
Para finalizar, em relação a La Masía em dados publicados em 2008, dos 422 jogadores que residiram no centro de formação espanhol, 10% debutaram com a equipe principal, 18% ainda estavam em alguma das categorias inferiores, 9% jogaram a primeira divisão espanhola ou estrangeira, 27% jogaram a segunda divisão e 36% jogaram amador ou abandonaram o futebol.
Gostaria de saber se os gestores e dirigentes brasileiros têm estes números em mãos. Os percentuais poderiam lhes traduzir se os trabalhos de formação que estão realizando vêm ou não sendo bem executados.
No clube espanhol, a produção já está maior que a demanda. Bojan, Romeo e Oriol não tiveram espaço na equipe principal. No Brasil, formar melhor os jogadores poderia acabar com o problema de muitos treinadores que culpam o excesso de rodadas dos campeonatos para o baixo nível do espetáculo e excesso de lesões nas competições nacionais.
Um clube grande no Brasil não conseguir ter 30 atletas de alto nível para competir a primeira divisão nacional, sinceramente, é difícil de compreender.