sábado, 2 de novembro de 2013

Treinador: a capacidade de potenciar ou antecipar os acontecimentos?

Autor: RUI LANÇA/formador e coach de treinadores e equipas
 
 
Existem muitas tarefas que atribuímos a um treinador. Atribuímos e exigimos! Uma delas é a capacidade que um treinador possui, com os recursos que tem ao seu dispor, de potenciar, condicionar ou antecipar os acontecimentos antes e durante a competição. Uns atribuem esta competência à experiência, maturidade, leitura do adversário e do jogo, gestão de acontecimentos ou emoções.

Na verdade, alguns treinadores têm essa capacidade de conseguir antecipar o que pode acontecer, forçar para que aconteçam e potenciar quando eles estão a acontecer. Analisar estes acontecimentos “fora do copo” é, sem dúvida, uma boa base para se conseguir atingir os objetivos. Mas requer uma análise profunda de vários pormenores que rodeiam a tarefa de um treinador. Este é um exercício intelectual que nem todos os treinadores estão capacitados para fazer. Mas não fará mal, porque se pode treinar. O problema começa quando os treinadores não estão sequer receptivos para a necessidade e existência.

É importante compreender que esta capacidade vai distinguindo os treinadores nos momentos mais emocionais, altos níveis de ansiedade pré e competitiva, nervosismo, que estão muito em jogo, de ter o discernimento de analisar de forma muito estruturada os acontecimentos. Os que já ocorreram, os que estão a ocorrer ou antecipar o que pode acontecer.

O ambiente emotivo que se vive diariamente num clube e na carreira de um treinador tem tanto de positivo, porque alimenta e motiva para estes acontecimentos, como de negativo, porque condiciona estratégias, tomadas de decisão e estados de espírito. É talvez essa uma das maiores dificuldades de um treinador, não deixar que o ambiente e os resultados influenciem negativamente a dinâmica e a motivação. A sua e dos seus atletas.

Pensamos ser uma problemática que está acima de ser treinador. É do ser humano. Podemos estar de tal forma focados e obcecados a dar o nosso melhor e não conseguir distinguir alguns aspectos essenciais, se não tivermos uma estrutura mental organizada e equilibrada.

Vejamos alguns casos. Há treinadores a quem se atribui a competência de “montar” bem as suas equipas para os jogos. Outros que mexem bem nas suas equipas durante o jogo. Outros que, quando as coisas não estão a correr bem, conseguem alterar as condicionantes e ficar por cima. A primeira situação é feita em condições mais confortáveis do ponto de vista da pressão e da decisão imediata. Talvez por isso as duas últimas são mais vezes analisadas durante o momento, e daí exigir-se melhores capacidades para adaptar-se e com a sua decisão condicionar ainda mais que o decorrer do jogo vá ao encontro das suas pretensões e, ao mesmo tempo, estrague as condições dos adversários.
Fonte: Record.