segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O Barcelona de Tito Vilanova

 

O Barcelona que chegou hoje a Lisboa para defrontar o Benfica, amanhã, já não é o mesmo que Guardiola inventou. Conheça as mudanças.

JOSÉ MARINHO

Em Pamplona, na vitória díficil do Barcelona sobre o Osasuna, durante a segunda metade do encontro, foi possível perceber uma das mudanças no actual paradigma táctico do Barcelona, após a transição suave de Guardiola para Tito Vilanova. Nesse jogo, como habitualmente acontece, o ponto de partida da equipa foi o 4-3-3 que desde 2008 Guardiola impôs como uma espécie de natureza específica do clube e que a equipa representou em campo, quase sempre com sucesso e com uma perfeição que irrita os seus maiores adversários.
Nesse jogo, em Pamplona, Tito Vilanova recorreu ao 4-2-3-1, pela primeira vez, subtraindo Messi da sua zona de conforto e apostando em Villa na posição 9, com os extremos bem abertos e um dupla de centro-campistas que asseguravam a necessária criação futebolística. O Barcelona acabou por vencer o jogo e projectou a ideia de que Vilanova não é apenas uma réplica de Guardiola, mas também tem ideias próprias e não tem hesitado em dar-lhes uma aplicação prática.
A mestria com que o tem feito, fá-lo parecer um treinador que apenas aproveita os resultados da obra que o seu antecessor deixou, mas vendo bem, esta equipa do Barcelona já tem tatuada na sua matriz táctica, além de um esplendor técnico inigualável, igualmente uma conceptualização de jogo que está em evolução.
A verdade é que Tito Vilanova, sem grande ruído mas com resultados que não desmentem a sua competência, já deixou de ser apenas o sucessor de Guardiola e já é reconhecido como o ideólogo de um Barcelona que não se pretende esgotar no seu sucesso anterior. Pois com Tito, o Barcelona utiliza os extremos para garantir mais jogo exterior, envolvendo-os menos em zonas de finalização ou de último passe, mundando um pouco a relação ambiental entre os extremos e os laterais, sendo apenas essa uma das mudanças que este Barcelona já operacionalizou em campo, em diversos jogos.
Além do planeamento táctico e das suas suaves alterações, tem sido, durante os jogos, que Vilanova tem demonstrado igualmente a sua astúcia. É sintomático que metade dos golos do Barcelona em jogos oficiais (12 em 24 e 9 em 17 na liga espanhola) tenham sido concretizados no último quarto-de-hora dos jogos realizados, numa altura em que as substituições idealizadas pelo treinador do Barcelona acrescentam à equipa um maior poder de decisão dos jogos.
Além do mais, em dois jogos, o Barcelona passou de uma situação de desvantagem no resultado ao intervalo para uma vitória no final desses encontros e em três outros desafios conseguiu transformar outras tantas igualdades em novas e concludentes vitórias. Um dos jogadores que personifica bem este novo estado de emergência táctica que Vilanova conseguiu acrescentar à equipa é David Villa, que já obteve três golos como suplente utilizado.
Também o sistema de rotações na equipa é agora mais partilhado por todos. Quando nasce, na cabeça de Vilanova, nasce para todos. Mesmo para Xavi e para Messi, que já foram suplentes utilizados em dois jogos do campeonato espanhol. Normalmente, de um jogo para o outro, o que o treinador do Barcelona faz é mudar três ou quatro jogadores, sem arriscar na identidade da equipa e sobretudo na qualidade de jogo.
De facto, há coisas imutáveis neste Barcelona, como o fascínio e quase dependência funcional da posse de bola, mas Tito Vilanova percebeu que a criação de Guardiola precisava de um upgrade, que protegesse mais a equipa do eventual esgotamento táctico a que o Barcelona estaria submetido, mais tarde ou mais cedo.
Por isso, para ser justo, o Barcelona que vai jogar no estádio da Luz, já não será a equipa de Guardiola, será o Barcelona de Vilanova. Igualmente forte, demolidor e cheio de encantamento, mas com mudanças que começam a ser perceptíveis e que certamente não apanharão desprevenidos o treinador do Benfica. Ou não fosse ele o mestre da táctica.

Fonte.  Make foot