Vitorino Hilton, do Montpellier, diz ter paraguaio e Mauro Galvão como exemplos e quer voltar ao Brasil no futuro para atuar em seu time do coração

O passo seguinte foi uma aposta: jogar no modesto Montpellier, clube que havia terminado o campeonato anterior apenas na 14ª colocação. E a escolha se mostrou acertada. Membro da melhor zaga do último Campeonato Francês, o atleta fez parte do time que deu ao clube o primeiro título francês de sua história e também se surpreendeu com o feito.
- Nunca imaginaria que seria campeão pelo Montpellier, mas, com o decorrer do campeonato, a gente foi sentindo que poderia chegar entre os primeiros. O time foi crescendo a cada rodada e, quando nós vimos, estávamos disputando de igual para igual no PSG - declarou o brasuca ao GLOBOESPORTE.COM
Agora, Hilton terá um desafio inédito na carreira, a disputa de uma Liga dos Campeões. Porém, aos 34 anos, seu sonho segue do outro lado do Atlântico: jogar no Flamengo, seu clube de coração.
Confira a íntegra da entrevista de Vitorino Hilton ao GLOBOESPORTE.COM:
GLOBOESPORTE.COM: Você deixou o Olympique para jogar no Montpellier e acabou ganhando o título francês logo na primeira temporada. Ficou surpreso?
Vitorino Hilton: Quando eu cheguei aqui, lembro que falei que o clube tinha condições de chegar entre os quatro primeiros, pois tem ótimos jogadores. Nunca imaginaria que seria campeão pelo Montpellier, mas, com o decorrer do campeonato, a gente foi sentindo que poderia chegar entre os primeiros. O time foi crescendo a cada rodada e, quando nós vimos, estávamos disputando de igual para a igual no PSG.

É uma descoberta para o Montpellier esse gostinho de ser campeão pela primeira vez e agora disputar essa competição prestigiada, onde estão os maiores clubes europeus. Precisaremos de uma preparação diferenciada, para o clube não fazer uma competição ruim. A gente sabe que é difícil pensar em título, mas vamos tentar passar da primeira fase.
Você foi eleito para a seleção do campeonato. O título veio com gosto ainda melhor?
Eu sempre tive a chance de estar entre os melhores do campeonato e esse ano, mais uma vez, fui recompensado com isso. É uma consagração e eu fico grato. Desde que eu cheguei na França, tentei mostrar meu futebol. Sempre tentei mudar a visão do zagueiro de antigamente, que precisava ser grandão, tirar tudo com chutão. Sempre tentei sair jogando com o meio de campo e acho que tenho uma boa técnica. Procurava fazer com que os torcedores e a imprensa admirassem meu futebol.
E você tem alguém como espelho, como inspiração?
Sempre me inspirei em dois zagueiros: o Gamarra e o Mauro Galvão. Procuro jogar de forma parecida com o estilo deles. Claro não cheguei ao nível deles, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

(Foto: Reprodução / Site oficial do Montpellier)
Ajudou mais do que atrapalhou. Quase todos os treinadores sempre gostaram do meu estilo de jogo.
Mas a vida dos zagueiros não é fácil na França, certo? Há jogadores muito rápidos e fortes, vindos do futebol africano.
A vida não é fácil mesmo, porque tem uns africanos muito rápidos. Mas aí é onde entra a experiência. Para não precisar correr tanto, a gente vai pegando os atalhos do campo, vai se antecipando a uma bola na linha de fundo, um lançamento. E isso faz a diferença.
Por falar em experiência, você já tem 34 anos. Pensa na aposentadoria?
Está longe, ainda. Se Deus quiser, tenho mais uns três anos pela frente, em um nível em que possa estar disputando o campeonato tranquilo. Muitos falam que aos 34 anos o jogador já está ficando velho. Eu passei duas temporadas sem jogar muitas vezes e tinha gente na França que já falava que eu tinha dado tudo que tinha para dar. Eu mostrei que tinha lenha para queimar.
Não jogava muitas vezes por que?
Alguns perguntavam por que eu não jogava no Olympique, já que no meu primeiro ano no time eu fiquei na seleção do campeonato. O treinador que chegou lá (Didier Deschamps) não gostou muito do meu estilo de futebol.

de Marselha (Foto: Getty Images)
Foi por causa dos dois. Eu cheguei a jogar 15 vezes como titular na primeira temporada dele. No ano seguinte, já não joguei muito e acabei me machucando, também. Eu já pensava em sair, voltar para o Brasil, mas não tinha nenhum clube interessado. E para completar ainda teve esse episódio na minha casa, que foi invadida por ladrões. Isso foi a gota d’água.
E o que houve nesse episódio?
A polícia acabou prendendo todos eles. Entraram na minha casa procurando dinheiro, eu disse que não tinha, que podiam levar jóias, mas foram violentos. Aqui na França, isso acontece muito com empresários. Marselha se tornou uma cidade perigosa, onde a gente não pode mais ficar tranquilo, não pode deixar a porta aberta.
Você deixou o Brasil há mais de dez anos. Se arrepende?
Não me arrependo, não, mas sempre tive aquela vontade de voltar. Pensava “quem sabe se eu tivesse ficado no Brasil, tinha me destacado no Campeonato Brasileiro ou conseguido uma eventual convocação para a Seleção”. Mas Deus me abriu as portas aqui na Europa e estou muito feliz pela minha trajetória.
E como decidiu sair?
Depois que o Paraná conquistou o módulo amarelo da João Havelange, surgiram oportunidades em alguns clubes brasileiros, como o Cruzeiro, e em clube mexicano. Então, o presidente do Paraná na época disse para eu não ir para o México porque tinha coisa melhor na Europa, na Suíça. Eu pensei: “vou me aventurar. A Suíça fica no meio da Europa e quem sabe consigo vaga em algum clube dos grandes centros”.

E agora pensa em voltar para o Brasil?
Eu penso, sim. Tenho mais um ano de contrato com o Montpellier. Quem sabe eu acabo voltando. Gostaria muito de voltar. Se fosse o clube do meu coração, eu balançaria, mas por enquanto eu vou ficar no Montpellier.
Seu clube de coração é o Flamengo, certo? Você sabe que eles estão procurando um zagueiro...
Meu sonho, por ser desde pequeno ser flamenguista, é jogar no Flamengo. É um sonho que não se realizou na minha carreira. Mas tudo bem. Se não acontecer um dia, não vou me arrepender de ter feito tudo que fiz até agora.
E você acha que pode enfrentar a pressão da Nação?
Assim como fiz aqui no Montpellier, eu iria fazer o máximo para não decepcionar. Fui regular durante toda a temporada, sempre estive 100% tentando ajudar o time. Acho que se eu jogasse pelo Flamengo, eu não iria decepcionar.