sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Figura do supertécnico perde força

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Luxa3Web
Não é um movimento radical. Há refluxos. É lento. Mas avança. A figura do supertécnico, com poderes que vão da escalação até o lugar mais adequado para acomodar a cerca do estacionamento, o mágico capaz de levar ao título ou a escapar do rebaixamento pela sua simples presença no vestiário, este perfil perde força.
Alguns exemplos deste universo estão em baixa. Boa parte desempregada, inclusive: Abel Braga, Muricy Ramalho, Celso Roth, Emerson Leão (foi ele que mexeu na cerca no pátio do Olímpico), Paulo César Carpegiani, Joel Santana. Outros flertam com a segundona no comando de clubes ricos, cheios de recursos. É o caso de Vanderlei Luxemburgo (Fluminense), Mano Menezes (Flamengo) e Paulo Autuori (São Paulo).
Enquanto isso, aos poucos entra na pauta a aposta em treinadores formados em casa e com ênfase na especialização tática. Antes, nem se cogitava manter no cargo um técnico com currículo só de base. Muito jovem, diziam. Inexperiente, acrescentavam. Pois é, mas Guardiola era jovem e inexperiente.
Assim, aos 34 anos, Marquinhos Santos comanda o Coritiba. Claudinei Oliveira, 43, se mantém no Santos. Inter e Grêmio já ficaram, recentemente, com Osmar Loss e Marcelo Rospide por períodos impensáveis em outros tempos, independentemente dos resultados. É uma quebra de paradigma interessante _ e uma economia também: o salário de um supertécnico, à certa altura, destrambelhou para algo em torno de R$ 1 milhão.
Tem lógica esta mudança de paradigma. Se um clube forma jogadores, por que não pode formar técnicos? Nada impede. Hoje, a competição nas categorias de base é medonha. Há mais torneios nacionais e mais gente garimpando talentos em todos os cantos do país. Os jogadores são aproveitados cada vez mais perto da primeira barba bem feita. Por questão de sobrevivência, têm de estar prontos antes.
É difícil descobrir o craque nos juniores. O fenômeno explode no juvenil, que agora mudou de nome, é sub-17. Se chega aos 21 anos sem chamar a atenção, é candidato a comum. Cruel, eu sei, mas é assim. Quem lida com estes jogadores quase no dia-a-dia, senão os profissionais da base?
Os técnicos da base ganharam relevância nos clubes. O Inter, por exemplo. Os dirigentes acompanham o time multicampeão de Clemer como laboratório para o principal. Hoje é Otávio, amanhã será Cláudio Winck e Fernando Baiano. No Grêmio, Fernando tomou conta do lugar aos 18 anos. Além do Efeito Guardiola, há também uma mudança tênue de comportamento que contribui para tirar de cena o supertécnico.
Wagner Mancini (Atlético-PR), Cristóvão (Bahia), Marcelo Oliveira (Cruzeiro), Cuca (Atlético-MG), Ney Franco (Vitória), Tite (o exemplo para mais bem acabado disso), todos estes têm um jeito menos “dono do mundo” e mais tolerante ao contraditório. A ênfase é nos jogadores. Coloque o melhor treinador do planeta no Tamoio, de Viamão, e nada acontecerá.
O próprio Felipão, espécie de hours-concours da profissão no Brasil, deixou o Palmeiras já a caminho do rebaixamento. Reencontrou-se numa Copa das Confederações brilhante na Seleção Brasileira, mas aí com os melhores à disposição, sem o desgaste do convívio diário.
Nada impede os supertécnicos de se encaixarem neste novo paradigma, já que todos têm méritos indiscutíveis. Os novos ares não significam o fim deles, e sim de um modelo. Quem sabe, no futuro, não teremos técnicos brasileiros brilhando na Europa como os argentinos, em vez de só jogadores?

Fonte: wp.clicrbs