quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A seleção espanhola redescobriu a magia do passe

A arte de passar a bola não é tão simples como parece. Além de técnica, exige leitura do jogo para facilitar a ação do companheiro e dificultar a do marcador
Prof. Dr. José Alberto Aguilar Cortez*
               
                                  
Do conjunto de técnicas necessárias para a prática de esportes coletivos, o passe fica distante do encantamento provocado por um drible. Entretanto, quando a Espanha está em campo, o passe adquire personalidade e também encanta os apaixonados pelo futebol. Poucas equipes conseguiram levar quase à perfeição, este fundamento tão importante que caracteriza os esportes coletivos.
A arte de passar a bola não é tão simples como parece, além de técnica exige leitura do jogo para escolher para quem endereçar a bola facilitando a ação do companheiro e dificultando a interceptação pelo marcador. O passe bem feito é o começo de um drible, de um arremate a gol ou de um novo passe.
O ato de impulsionar a bola para outro jogador, da mesma equipe, depende do acúmulo, em frações de segundo, de informações auditivas, visuais e táteis que serão processadas para a melhor tomada de decisão.
Para quem passar? Que tipo de passe? Com qual parte do pé? Rasteiro ou aéreo? Que velocidade imprimir à bola? São questões que precisam de resposta rápida porque hesitar aumenta a possibilidade de sucesso do adversário.
Para dominar este fundamento, com ambos os pés, o jogador precisa treinar muito, repetir à exaustão, em diferentes circunstâncias, para aprender a posicionar o corpo de forma favorável e equilibrado sobre o pé de apoio.
A melhor forma de aprendizagem deste fundamento técnico na infância é o jogo, aprender jogando, sem pressões externas. Mas, com as correções necessárias do especialista é mais motivador. É durante a infância em campos reduzidos, de diferentes dimensões e em pequenos grupos, que as oportunidades de tocar na bola em múltiplas circunstâncias, desafiam os aprendizes.
A movimentação constante dos companheiros de equipe e dos adversários ajuda a identificar as virtudes e os defeitos na escolha e na execução do passe, fato que contribui até para motivar os menos habilidosos a usar os métodos analíticos para aperfeiçoar o toque de bola.
Infelizmente no nosso futebol a grande maioria dos jogadores parece não dominar este fundamento básico. Na série A do Campeonato Brasileiro, observamos o número excessivo de passes errados que, quando não oferecem o contra-ataque para o adversário, aumentam o número de choques e lesões, consequência de passes mal feitos que provocam situações de divididas desnecessárias.
Na última década, assistimos à evolução do futebol em vários países que contam com número muito menor de praticantes quando comparados com o Brasil. Diante desta realidade, eles aperfeiçoaram os métodos e com eles a valorização do jogo coletivo e do seu principal fundamento: o passe.
Se, no passado, nós éramos a referência e os outros nos copiavam atualmente só conseguimos ser respeitados porque, entre milhões de praticantes, de vez em quando aparecem talentos como Neymar.

*Trabalha no Departamento de Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP