Após saída, Cunha admite contato da oposição, mas não confirma candidatura
'Não sou oposição nem situação, sou eu', diz o ex-superintendente de futebol do Sãso Paulo
Depois de acertar oficialmente sua saída do São Paulo, o ex-superintendente de futebol do clube do Morumbi, Marco Aurélio Cunha, confirmou à reportagem do ESPN.com.br, em entrevista exclusiva, por telefone, nesta sexta-feira, que recebeu ligações de membros da oposição manifestando carinho. O dirigente assegurou que não faria um contraponto ao atual presidente, Juvenal Juvêncio, nas eleições, mas criticou a administração do clube por deixá-lo isolado, sem "eco" para a tomada de decisões internas.

"Essa decisão (de deixar o São Paulo) eu já tinha tomado no ano passado, quando constatei que o que eu pensava não encontrava mais ressonância no clube", justificou Cunha, que antes de assumir o cargo de superintendente de futebol, em 2002, já havia feito parte do departamento médico da equipe, entre 1979 e 1990.

Questionado a respeito dos rumores dando conta de que seu nome estaria sendo especulado como possível candidato da oposição nas eleições presidenciais do clube, marcadas para abril, Marco Aurélio Cunha admitiu as sondagens e despistou sobre o futuro. "Eu sou sempre lembrado por eles. Para mim, não tem oposição nem situação no São Paulo. Essas pessoas brigam entre si e criam grupos. Eu sou fruto do São Paulo", diz.
'Não sou oposição nem situação, sou eu', diz o ex-superintendente de futebol do Sãso Paulo
Crédito da imagem: Agência Gazeta Press"Sou uma pessoa que me formei dentro do São Paulo. Não pertenço a nenhum grupo político lá, não me sinto vinculado a ninguém", continuou. "Não sou oposição nem situação, sou eu. Mas sempre alguém me liga gentilmente. Eu recebi hoje um telefone do Pimenta (José Eduardo Mesquita Pimenta, presidente do clube no início dos anos 1990), e-mails de vários conselheiros... O que é isso? Um convite ou gratidão? Eu não sei."

Marco Aurélio Cunha aproveitou para deixar claro que sua decisão de se desligar da diretoria não se deve à iniciativa de Juvêncio de concorrer ao terceiro mandato em abril, em decisão controversa e que, na visão da oposição, descumpre o estatuto do clube.

"Não foi (por isso), honestamente. O presidente também cometeu os seus deslizes, é claro. Mas o maior problema, para mim, é ver que você não tem mais eco no clube. Talvez seja pelo desgaste do tempo, não sei ao certo", alegou o ex-superintendente. "Eu sou o São Paulo na rua. Não posso ser uma fraude para quem gosta de mim. Mas entreguei minha demissão e fui embora para casa. Jamais vou querer nada do clube. Se tem alguém que deve ao clube, sou eu."

Perguntado se seria o candidato oposicionista à presidência do São Paulo, Cunha garantiu que, contra Juvêncio, não se lançaria no pleito. Mas deixou o futuro em aberto. "Com o presidente Juvenal eu jamais iria me contrapor, apesar de todas as divergências. Mas também não sou a favor do terceiro mandato, de forma alguma", diz. "Vamos acompanhar que vai acontecer daqui por diante, se vai ter eleição e quem serão os candidatos."
Candidato a uma nova reeleição, Juvenal Juvêncio cometeu erros no segundo mandato, diz Cunha
Candidato a uma nova reeleição, Juvenal Juvêncio cometeu erros no segundo mandato, diz Cunha
Candidato a uma nova reeleição, Juvenal Juvêncio cometeu erros no segundo mandato, diz Cunha
Crédito da imagem: Agência Gazeta Press'Revolução da base'
Na entrevista desta sexta-feira, Marco Aurélio Cunha repetiu as críticas à administração de Juvenal Juvêncio que já havia feito em outra entrevista ao ESPN.com.br, no ano passado, manifestando sua contrariedade com a demissão do ex-técnico do São Paulo, Ricardo Gomes, após a eliminação na Copa Libertadores, para a entrada do interino Sérgio Baresi, promovido das categorias de base ao comando do time principal.

"Houve certa intransigência (da direção atual) em algumas coisas. Eu queria um nome à altura do Ricardo (Gomes). Nós ficamos 14 rodadas com o Baresi, e a diretoria quis impor um estilo da base. Sou a favor da base, mas os jogadores têm de estar preparados", afirma. "De repente, veio uma ‘revolução da base’, e aquilo imposto, sem nenhum preparo."

Na última quinta-feira, o grupo político do atual presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, confirmou que o dirigente será candidato à reeleição pela segunda vez. O cartola assumiu o cargo em 2006, após dois mandatos bem sucedidos do antecessor, o já falecido Marcelo Portugal Gouvêa, que levou a equipe ao tricampeonato da Libertadores e do Mundial de Clubes, em 2005.

Em 2008, Juvêncio foi reeleito para mais dois anos à frente do clube, mas uma mudança no estatuto no meio de seu mandato aumentou o período de permanência do presidente no poder de dois para três anos, até 2011. De acordo com a interpretação jurídica do grupo ligado a Juvenal, entretanto, essa alteração permite com que o atual mandatário tenha direito a se lançar candidato a uma nova reeleição - a primeira sob o novo formato estatutário.

A decisão da situação de concorrer ao terceiro mandato foi recebida com críticas pela oposição, em dificuldades para encontrar um candidato natural para as eleições de abril. Marco Aurélio Cunha, então, passou a ser um dos nomes muito cotados por esse grupo político nos bastidores, e esses rumores se reforçaram ainda mais após seu desligamento da atual diretoria.
Fonte: espn.com